1. |
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Tende a piorar
antes de melhorar
Como ousam relativizar
tamanha monstruosidade?
Quão baixo se deixaram levar?
E se eu te vingar?
E se essa dor for impossível de assimilar?
Dizem que perdoar
é uma libertação,
mas eu ainda não cheguei lá
Nos meus sonhos revanchistas,
sanguinária a minha justiça
Não foi por falta de aviso
Essa corja ufanista,
a audácia desses parasitas
Não foi por falta de aviso
E se o meu chão rachar?
E se eu perder o meu brilho, mais e mais?
Triunfante ao fracassar
ou fracassando ao enfim triunfar
Uma constatação aleatória
me vem à mente agora e me distrai
A partir do meu próximo aniversário,
eu já terei vivido mais do que o meu pai
Por que ele se foi tão moço?
Por que a gente dura tão pouco?
Cada dia é precioso,
cada dia é precioso
Cada dia é precioso,
eu não sei a quem pedir socorro
Não foi por falta de aviso
Meu ódio é meu calabouço,
eu não sei a quem pedir socorro
Não foi por falta de aviso
Por um minuto de conforto,
a gente se joga no lodo
da nostalgia,
do potencial que se tinha,
do “feliz e não sabia”
Mas tão precioso é o novo dia
Tão precioso é o novo dia,
tão precioso é o novo dia,
tão precioso é o novo dia,
tão precioso é o novo dia
Tende a piorar
antes de melhorar
Dizem que perdoar
é uma libertação,
mas eu ainda não cheguei lá
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2. |
Todo O Meu Empenho
03:41
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Presta atenção que os sinais
já são suficientemente claros
Eu reconheço os riscos
Ah, eu fujo do que eu sinto
Codificando o que não se ousa ser dito,
será que é mesmo tão reprovável
que eu sinta o que eu sinto?
Ah, por que eu sinto o que eu sinto?
Presta atenção que os sinais
já são suficientemente claros
Ah, eu fujo do que eu sinto
Por que eu sinto o que eu sinto?
Eu nunca aprendi a domar meu temperamento
De novo, eu explodo
E logo me arrependo
Presta atenção nos sinais,
será que é mesmo tão reprovável
que eu sinta o que eu sinto?
Ah, por que eu sinto o que eu sinto?
Ah, só eu sei o que eu sinto
A conta não fecha
Todo o meu empenho,
nem além, nem aquém
todo o meu empenho,
essa é a chance que eu tenho
Todo o meu empenho,
nem além, nem aquém
todo o meu empenho,
é ofuscante a beleza que eu vejo
Não se acanhe, eu te entendo
Não se acanhe, eu te aceito
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3. |
De Arder
04:49
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Violenta a ilusão que me fascinava
sem eu imaginar o que me aguardava,
como quem atravessa correndo
uma porta de vidro
achando que ali não havia nada
Obsessão antiga que se arrasta,
minha ideia do que é ser livre me ancorava
até eu cair em mim
Presa fácil para o obscurantismo
Muito do que já me pareceu
urgente a ponto de arder
não tem mais resquício de urgência alguma
A truculência enquanto linguagem universal
Consciência formigante,
grávida radiante
Eu devo ou não ir adiante?
Lado meu que eu jamais vi antes
Deixa a televisão no mudo,
eu não suporto a voz desse demente
Deixa a televisão no mudo,
quem fez desse cretino um presidente?
Minha ideia do que é ser livre me ancorava,
sendo que liberdade é só
a distância entre caçador e caça
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4. |
Vai
05:08
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Vai,
pode ir
eu compreendo
ninguém vai te culpar por desistir
Vai,
se desprende de mim
eu aguento
não tem que doer mais do que já dói
Foi por boa vontade
que eu projetei
o que não devia em você?
Quanta ingenuidade,
o que eu esperava em troca?
A gente custa a crescer,
se recusa a entender
eu fui até onde eu pude
Uma coisa é acolher,
outra coisa é prender
eu cedi até onde eu pude
A gente custa a crescer,
se recusa a entender
eu fui até onde eu pude
A essa altura,
ter razão
não me traz alívio algum,
não me traz conforto algum
Vai,
pode ir
eu compreendo
ninguém vai te culpar por desistir
Vai,
se desprende de mim
eu aguento
não tem que doer mais do que já dói
Foi por boa vontade
que eu projetei
o que não devia em você?
Quanta ingenuidade,
o que eu esperava em troca?
A gente custa a crescer,
se recusa a entender
eu fui até onde eu pude
Uma coisa é acolher,
outra coisa é prender
eu cedi até onde eu pude
A gente custa a crescer,
se recusa a entender
eu fui até onde eu pude
A essa altura,
ter razão
não me traz alívio algum,
não me traz conforto algum
Era só ligar os pontos,
era só verbalizar o incômodo,
era só readequar os planos,
era só não deixar o mal-estar vence
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5. |
Que Em Mim Se Encerre
03:32
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Com olhos calmos e infantis,
fez eu me sentir visto como jamais eu me senti
Eu achei que me decifraria em frações de segundo
Desvendaria o que eu julgava ser o mistério mais profundo
Um teatral fervor religioso
tão falso quanto espalhafatoso
Argumenta que a fé lhe proporcionou um renascimento
Uma tática eficaz, mas que não me engana
nem por um breve momento
Que a maldição se encerre em mim
E eu já vi toda espécie de reação
Há quem compre essa conversa, há quem não
Da minha parte, eu posso dizer que conheço bem o tipo
Tantos vermes que se apresentam como uma reencarnação de Cristo
Que a maldição se encerre em mim
Forçado a se apequenar,
você se vê forçado a se apequenar
Os patrões a quem eu me afeiçoei,
como será que eles me veem?
Aqui se encerra,
a maldição em mim se encerra
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6. |
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Abre as cortinas
que o sol avance
Existe vida
não se esconde
Eu aprendi
desde tão cedo
os fracos só atacam
ao farejar medo
Você me resgatou
na hora mais sombria
Tem algo de redentor
na luz que só você irradia
Sacrificado
e exibido
como exemplo
a não ser seguido
Eu sou sagrado,
eu sou mais que os meus erros
ainda que eu tenha me castigado
por tanto tempo
Você me resgatou
na hora mais sombria
Tem algo de redentor
na luz que só você irradia
De madrugada,
tudo em suspenso,
você já se assustou
com seus próprios pensamentos?
Porque eu acordei
e não quis voltar a dormir
para não desembocar de novo
naquele sonho ruim
Você me resgatou
na hora mais sombria
Tem algo de redentor
na luz que só você irradia
Abre as cortinas
que o sol avance
Ainda existe vida,
não se esconde
Você me resgatou
na hora mais sombria
Tem algo de redentor
na luz que só você irradia
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7. |
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Mostre algum arrependimento,
qualquer sinal de desilusão
Seria a sua redenção,
seria a sua redenção
Ver em você um carrasco voluntário,
coautor de tanta destruição
Me faz querer a sua redenção,
eu torço pela sua redenção
Perdoa a minha indiscrição
Eu devia estar calejado,
mas nunca se está preparado
Quando eu me fiz estrangeiro,
eu provei a mais aguda solidão
Me corta o coração, me corta o coração
E essa empolgação ingênua
nos seus planos de imigração
Me corta o coração, me corta o coração
Perdoa a minha indiscrição
Eu devia estar calejado,
mas nunca se está preparado
Algo em mim despertou,
algo em mim despertou
Nunca mais eu fui o mesmo
A vida tem uma métrica difícil,
uma hora você perde o ritmo, o fôlego ou a afinação
Mas ainda se canta a canção,
ainda se insiste na canção
Cada um tem a sua missão
Eu devia estar calejado,
mas nunca se está preparado
Algo em mim se quebrou,
algo em mim despertou
Morre um apaziguador,
nasce um saqueador
Nunca mais eu fui o mesmo
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8. |
Vociferando
05:12
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(No meu íntimo)
(Eu preciso)
(Síndrome de impostor)
(Cego de raiva)
(Meus pensamentos)
(Meus pensamentos embaralhados)
(Fingindo calma, fingindo que sabe o que faz, fingindo que não se preocupa com…)
(Deslumbrado)
(Eu preciso, eu preciso, eu preciso,
eu preciso urgentemente)
(O que desencadeou?)
(É só uma superstição)
A enormidade
da necessidade (no meu íntimo)
de fazer parte
de ser acolhido
de ser bem visto
de ser bem-quisto (sem filtro nenhum)
de ser imprescindível
Me asfixia
me liberta
me incendeia (vociferando)
me congela (no seu íntimo)
de uma só vez (o que desencadeou?)
Me paralisa (síndrome de impostor)
me inquieta
Eu me fechei, eu me tranquei, eu me fechei
Nessa vida desfigurada, eu me isolei
Tudo se perdeu de vista,
tudo se perdeu de vista
Eu me fechei, eu me tranquei, eu me fechei (e se eu mudar de ideia?)
Nessa vida desfigurada, eu me isolei
Tudo se perdeu de vista (um por um),
tudo se perdeu de vista
(Falaram para eu pegar o elevador de serviço,
Falaram para eu só usar o elevador de serviço
O elevador de serviço)
(Vociferando)
Essa nova realidade
ainda me parece inverossímil,
mas com que impressionante força se impôs
(Tudo embaralhado)
(Uma estátua sua)
(Meus pensamentos todos embaralhados)
(Um grande emaranhado)
(Pensamento corrosivo,
é corrosivo)
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9. |
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Já não se permite que eu sonhe
Já não se permite que eu sonhe
Já não se permite que eu sonhe
De quem eu herdei meu nome?
A brutalidade que irrompe
Não espere perdão (eu me vi zonzo de fome)
Não espere perdão,
não conte com o meu perdão
Eu me vi zonzo de fome,
cambaleando sem saber para onde
A chuva daqui é a mais pesada que eu já senti,
a chuva daqui é a mais gelada que eu já senti
E por mim, tudo bem
Com você tudo é tão intenso,
não tem como eu sair ileso
Com você tudo é tão intenso,
não tem como eu sair ileso
Minha vista fraca,
minha cabeça cansada,
as notícias ruins vindo de enxurrada
Eu não quero saber de mais nada,
eu não quero saber de mais nada
É quase um milagre que você exista
É maravilhoso que alguém como você exista
Por hoje, isso pra mim basta
eu não quero saber de mais nada
A chuva daqui é a mais pesada que eu já senti,
a chuva daqui é a mais gelada que eu já senti
E por mim, tudo bem
Com você tudo é tão intenso,
não tem como eu sair ileso
Com você tudo é tão intenso,
não tem como eu sair ileso
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10. |
O Dialeto
02:35
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Nem tenta tirar o corpo fora agora,
você e o seus
Nem tenta tirar o corpo fora
O pessimismo mais extremo
se solidifica
justificável, inescapável, inquebrantável
A imagem que me ocorre nesse momento é
de um filhote com a coleira na boca
eufórico e inconsequente, conduzindo o a si mesmo sem ter ideia do que está fazendo
De cabeça erguida, orgulhoso, incapaz de se dar conta do abismo para o qual se dirige
Chegava a ser palpável todo o seu incômodo
com o dialeto dos empregados,
com a o euforia dos assalariados,
com a desaforada ascensão dos subordinados
Deu no que deu
Nem tenta tirar o corpo fora agora
Essa histriônica horda de fanáticos
faz Deus parecer sádico
Armou-se acidentalmente uma barricada de corpos desafortunados em frente à minha porta
De forma que eu acho que aqui eles não entram
E se entrarem, um dos lados vai ter uma baixa
Ou eles, ou eu
Deu no que deu
E esse peso no meu peito?
Nem tenta tirar o corpo fora agora
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11. |
Breu
05:54
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Começou faz umas duas semanas.
Da noite para o dia, ele ficou muito mais recolhido do que de costume. Tudo assustava ele. Qualquer som fazia ele perder a paz. A cada passo temeroso que ele arriscava, eu notava uma insegurança que ele nunca tinha mostrado antes.
Não demorou para que eu entendesse qual era o problema: ele estava no meio de um processo inesperado de perda de visão, que se acentuou drasticamente do nada. À medida que a percepção visual dele ficava mais nebulosa, embaçada, indefinida, sua alegria também sumiu. Nossos pequenos rituais não eram mais possíveis. Tentei interagir com ele como sempre fiz desde os primeiros dias em que estivemos juntos, obviamente de uma forma mais devagar e comedida do que antes, mas os reflexos já não estavam lá. Em vez de trazer calma, minha tentativa de simular a antiga normalidade só o deixou ainda mais abalado.
Hoje, quando cheguei em casa, ele rosnou como se eu fosse um estranho. Nem o som da minha voz fez com que ele me reconhecesse. Me abaixei, ofereci as costas da minha mão para ele. Só assim ele conseguiu me identificar. Talvez eu esteja vendo coisas onde não existe nada, mas realmente me pareceu que ele ficou constrangido e sentido por não ter percebido logo quem eu era.
Estou tentando não me abater, tentando transmitir a força que eu sei que meu amigo precisa nesse momento. Me identifico em voz alta toda hora. Sempre aviso quando vou encostar nele, quando chega a hora de aplicar os remédios que eu torço que tragam de volta um pouco da sua capacidade de enxergar. Descrevo o que está acontecendo, quem está por perto, o que ele está prestes a comer. Não sei se estou fazendo a coisa certa.
Torço para que os meus monólogos façam algum sentido aos seus ouvidos. Faço isso para que a minha presença o conforte de alguma maneira. Para que ele tenha a segurança de que eu seguirei ao seu lado como guia, como protetor, como família, como quer que ele precise de mim.
Algum bem, alguma diferença para alguém eu tenho que fazer nesse mundo.
Ruídos que só agora eu posso notar
Objetos inanimados parecem espernear
Eu caminho temeroso tentando me equilibrar
O chão se mexe, as paredes mudam de lugar
A escuridão é tanta que eu nem sei
se meus olhos estão abertos ou fechados
Proximidade, eu já não sei calcular
Perto ou longe, eu não consigo julgar
Eu me choco contra a solidez do ar
Eu abdico do que for preciso abdicar
A escuridão é tanta que eu nem sei
se meus olhos estão abertos ou fechados
Caiu um raio
bem do nosso lado
foi um susto inimaginável
eu nem me reconheci de tão apavorado
Eis o breu
Está perdido quem se deixar enganar
pela traiçoeira quietude do breu
Minha busca
é por qualquer resquício
de bravura
que ainda resida em mim
Mas qual bravura ainda reside em mim?
Eis o breu
Por que isso tinha que acontecer
logo com você?
Por que justamente com a gente?
Por que isso tinha que acontecer
logo com você?
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12. |
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Quantos dias de agonia
em que eu me exigia perfeição?
Como se fosse essa a questão,
como se fosse essa a questão,
A existência se esvazia
luto, ressentimento e autocomiseração
Como se fosse essa a questão,
como se fosse essa a questão
Perdoa a minha irritação
Sobrevivendo a mim mesmo,
ressuscitando a mim mesmo
Tão pouco se controla,
quase tudo vem por imposição
Mas não é bem essa a questão,
não é essa a questão
E se eu também estiver passando
por um processo de desumanização?
Mas não é bem essa a questão,
não é essa a questão
Perdoa a minha irritação
(Nasce um saqueador)
Sobrevivendo a mim mesmo,
ressuscitando a mim mesmo
Algo em mim se quebrou,
algo em mim se quebrou
Sobrevivendo a mim mesmo,
sobrevivendo a mim mesmo,
ressuscitando a mim mesmo,
Eu, sobrevivendo em mim
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13. |
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Todo um universo
se origina
e se sustenta
nos raros segundos
em que seus olhos
se fixam nos meus
Em rota de colisão,
quem desvia primeiro?
Fantasia irrealizável,
porém inabandonável
Desejo incendiário,
impulso que,
a contragosto,
eu combato
Em rota de colisão,
quem desvia primeiro?
Só o som da sua respiração
me acalma, me acalma, me acalma
Eu não quero que você pense
que eu estou me afundando,
embora eu esteja
Em rota de colisão,
quem desvia primeiro?
Só o som da sua respiração
me acalma, me acalma, me acalma
Não tem mais urgência alguma,
não tem mais importância alguma
Tão precioso é o novo dia,
tão precioso é o novo dia
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Jair Naves São Paulo, Brazil
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