1. |
||||
Letra e música: Jair Naves
Eu sou um homem, não um menino
certas coisas eu não admito
carrego um desejo de vingança reprimido
Desde que na minha casa entrou um estranho
que encostou uma arma pro meu crânio
e eu nada pude fazer
a não ser me ver balbuciando
febrilmente, implorando:
"eu não estou pronto pra morrer"
Cada um tem que enfrentar o seu carma
pagar por uma escolha errada
comigo não é diferente
Minha baixa escolaridade
é um espetáculo à parte
eu sei que pode te entreter
já que você vê comicidade
em tanta desigualdade
o que, pra mim, é novidade
mas eu evito esse debate
pois seguiremos nesse impasse
mesmo depois que eu morrer
Toda cidade tem a sua aberração
uma criatura habituada à humilhação
para quem não existe chance de redenção
Eu me lembro de um aspirante a padre
que aos quinze anos de idade
teve que se defender
de uma afronta à sua masculinidade
que nem sequer era verdade
ou, se era, era só em parte
de resto, era só maldade
mas não houve quem não acreditasse
Então, segundo me contou Linari,
logo ocorreu um embate
quando numa certa tarde
de porta em porta, o coroinha bate
e anuncia com voz grave
se fazendo ouvir, sem muito alarde:
"estejam prontos para morrer"
Nem é preciso comentar
eu me contento em ressaltar
o poder de uma mentira dita mil vezes
O desespero me invade
um choro em meu rosto arde
mas eu não posso me deixar abater
mesmo com o coração partido
amargamente desiludido
eu preservo a gana de vencer
Me esconde onde não me achem
onde qualquer ruído se abafe
não me deixa enlouquecer
Me beija com vontade,
me demonstra lealdade
para mim, isso é o que vale
E se esse amor for de verdade,
eu estarei pronto para morrer
|
||||
2. |
Poucas Palavras Bastam
04:04
|
|||
Letra e música: Jair Naves
Ainda persiste uma dúvida
que eu talvez nunca vá esclarecer
Ainda persiste uma dúvida
que eu não me canso de remoer
Só que é o tipo de coisa de que não se fala em hipótese alguma
Poucas palavras bastam para que eu nem queira sair à rua
Se a sua consciência é muda, a minha fala alto demais
E vai impedir que eu durma se um dia eu fizer o que você faz
"Tanto potencial desperdiçado", você lamentou em um suspiro
com ar de superioridade, como quem orienta um filho
É nesse ponto da história que fica evidente quais são as condições:
ou você cede as rédeas, ou morre com suas convicções
Mas se a sua consciência é muda, a minha fala alto demais
E vai impedir que eu durma se um dia eu fizer o que você faz
Não é que eu seja um santo, mas para tudo há um limite
Paralisado de espanto, eu te vejo ir onde não se permite
|
||||
3. |
||||
Letra e música: Jair Naves
Vem até mim um senhor de fala lenta
diz que bebendo assim eu nem chego aos quarenta
Teima que sabe bem o que deixa um homem no estado em que eu estou
e me alerta que a auto-piedade é a seqüela mais comum do amor
Eu nem ouso discordar
Esse esteve em meu lugar
Então eu desabafo, peço conselhos
ganho a simpatia dos outros bêbados
Fico elaborando teorias
tentando esgotar o assunto e seguir em frente a minha rotina
Eu só queria poder
me redimir com você
Acho que eu te deixei assustada,
eu agi da forma mais errada
Aquele triste homem intimidado
agora luta pra se manter afastado
e não te incomodar
Me diz quando parar
(onde é que eu vou parar?)
No fim da ladeira, entre vielas tortuosas,
há uma vila de casinhas silenciosas
Numa manhã fria, eu saí de uma delas
convencido de que ali eu havia achado a pessoa certa
Agora dói passar perto daquele lugar
Acho que eu te deixei assustada,
eu falei alguma coisa errada
Um nervosismo incontrolável
agora eu luto pra me manter afastado
e não te incomodar
Me diz quando parar
(onde é que eu vou parar?)
Acontece que eu ainda enxergo em ti
tudo de que eu mais me orgulho em mim
Como um pássaro ruidoso ao ver a luz do amanhecer
eu não pude me conter
Me desculpa se eu te deixei assustada,
se eu disse alguma coisa muito errada
Mas eu nunca fui de pecar pela omissão
ou de ignorar o meu coração
Não vá se afastar
|
||||
4. |
||||
Música: Alexandre Xavier e Jair Naves
Letra: Jair Naves
Você sabe
tão bem quanto eu
ninguém pode
dar amor se nunca o recebeu
Ah, tão sem jeito
Ah, tão sem jeito
Ah, tão ruim
E é frustrante
não poder mostrar
como eu me sinto
por receio de te afugentar
Ah, tão sem jeito
Ah, tão sem jeito
Ah, tão ruim
Ontem eu adoeci de tão preocupado
envolto em um suor espesso e gelado
me sentindo ingênuo
e despreparado
para lidar com o mundo lá fora
Maria Lúcia riu:
"filho, você só precisa
do seu violão
e da sua imagem de Santa Cecília
para ser alguém na vida,
para honrar a sua família,
para me deixar orgulhosa"
E o quanto isso me acalma
você nem desconfia
Meu porto seguro,
minha mãe, minha pessoa preferida
Então que eu seja alguém na vida,
que eu honre a minha família,
que eu a deixe orgulhosa
Pois eu te digo que o meu maior temor
é que quando a minha mãe se for
ela vá intranqüila,
sem a sensação
de partir com a sua missão cumprida
Com o tempo, eu criei
meu próprio conceito de Deus
o que talvez me torne
um tipo raro e estranho de ateu
Ah, tão sem jeito
ah, tão sem jeito
mas assim que é pra mim
O que eu busco é alguma garantia
de que existe algo além dessa vida,
de que a morte não é tão definitiva
e sim uma breve despedida
|
||||
5. |
||||
Letra e música: Jair Naves
Eu desconheço
exemplo mais eficaz
do que uma criação
inadequada é capaz
Eis que alisam a sua cabeça
e reforçam a certeza
de que tudo é uma conspiração
feita contra você
A platéia entregue
e o primeiro aplauso é meu
para o personagem hostil
que nunca me convenceu
Mas eu aplaudo mesmo assim
porque o mundo inteiro há de aplaudir
sempre a começar por mim
Carmem, eu nunca admiti
mas eu me transformei quando eu te conheci
Eu soube que você engravidou
de um estrangeiro e se mudou
Sem ressentimentos,
nada contra você
A platéia entregue
e o primeiro aplauso é meu
para o personagem hostil
que nunca me convenceu
Mas eu aplaudo mesmo assim
porque o mundo inteiro há de aplaudir
sempre a começar por mim
|
||||
6. |
Guilhotinesco
04:25
|
|||
Letra e música: Jair Naves
Eu fui temente a Deus
que se manifestou
sempre a meu favor
Mesmo nos dias em que eu me arrastei
como por provação
sem nem distinguir
meu corpo do chão
Se eu me vejo embrutecido,
vivendo sem ilusões
Eu me sinto agradecido
por enfim ter aprendido
a mais dura das lições
Foi um beijo umedecido,
guilhotinesco e fatal
Meu peito acolhe um berro contido
a que eu não suportaria dar vazão
Um grunhido primal, grave e aflito,
como o som dos surdos quando gritam,
amplificado pela solidão
Foi um beijo umedecido,
guilhotinesco e fatal
|
||||
7. |
||||
Letra e música: Jair Naves
Tão tarde eu fui dormir,
tão cedo eu acordei,
um desapego imenso
Pela manhã,
aviões traiçoeiros que teimam em ameaçar cair
trarão seus modos tirânicos até aqui
E eu não caibo em mim
de contentamento
Eu não vejo em mim nenhum medo,
não existe em mim nenhum medo
Quando eu era menor,
eu me perguntava como deveria ser
a vida em uma dessas casas à beira da estrada
tristes e isoladas
Acho que agora eu sei
pelo vazio com que eu convivo há tanto tempo
Eu não vejo em mim nenhum medo,
não existe em mim nenhum medo
Por uma intervenção divina, por uma devoção desobediente
Eu não vejo em mim nenhum medo,
não existe em mim nenhum medo
Quilométrico é o sorriso que explode ensurdecedoramente
Eu não vejo em mim nenhum medo
e não existe em mim nenhum medo
|
||||
8. |
Covil de Cobras
06:11
|
|||
Música: Jair Naves e Renato Ribeiro
Letra: Jair Naves
É um covil de cobras,
recusa a oferta e diz que pra ti isso é esmola
Não se apavora
enquanto eu estiver na sua escolta
Que seja só eu contra mil
Tamanha frieza ninguém nunca viu
Surge um europeu deslumbrado
com delírios de colonizador
quinhentos anos atrasado
agora eu tenho com quem me indispor
Eis a prova
de que Maria Antonieta fez escola
Só me acorda
quando a classe operária for à forra
Que seja só eu contra mil
Tamanha frieza ninguém nunca viu
Tremendo de entusiasmo,
eu disse "eu te amo" assim que você me tocou
Incrédulo e afobado,
meu desejo improvável se realizou
E essa cena sempre me volta
quando eu quero fugir da jaula em que eu estou
a minha memória mais preciosa,
o pouco de doçura que me restou
a minha memória mais preciosa,
refúgio pro cinismo que me tomou
A minha alma
se esvaiu de mim
eu nem senti, eu nem senti
Sem me dar conta, irremediavelmente eu me perdi
eu nem senti, eu nem senti
Quando a minha alma se esvaiu de mim
eu nem senti, eu nem senti
Pra mim, tudo mudou
quando começaram a me chamar de senhor
E eu me atentei tardiamente
que a juventude se vai tão de repente,
que eu não vou viver eternamente
|
||||
9. |
A Meu Ver
06:37
|
|||
Letra e música: Jair Naves
A meu ver, é um sacrifício
sem a menor razão de ser
Passos certeiros rumo a um abismo,
mas quem sou eu para querer mudar você?
As pessoas vêm e vão,
hoje eu tenho essa convicção
Se é que você ainda me dá ouvidos,
devo dizer que eu não fracassei
Como nós sempre competimos,
eu achei que você devia ser a primeira a saber
As pessoas vêm e vão
hoje eu tenho essa convicção
Mas a muito custo eu aprendi
que não pode ser cada um por si
A meu ver, seria um castigo
se eu não voltasse a ter você
A meu ver, é só o destino
insistindo em se fazer prevalecer
As pessoas vêm e vão,
hoje eu tenho essa convicção
Mas a muito custo eu aprendi
que não pode ser cada um por si
Então me recebe
como eu te receberia
no melhor dos momentos
ou no pior dos seus dias
Eu estou tão esgotado,
tudo é frágil demais
Eu posso não estar aqui
quando você olhar pra trás
Então hoje me abraça
como eu te abraçaria
no pior dos seus dias
|
||||
10. |
Eu Sonho Acordado
06:20
|
|||
Música: Jair Naves e Renato Ribeiro
Letra: Jair Naves
Líder nato, um tanto irresponsável, mas tão persuasivo
Aprendiz ingrato, herdeiro perdulário, exala magnetismo
Depois de dez minutos preso, ele escapou ileso
sem um arranhão
instigando uma rebelião
Há um brilho fraco em seus dentes manchados, quebrados e pequenos
Ela reclama da sorte, diz que só se fode e age com destempero
“A gente se envolve e sem saber escolhe o vilão da vez”,
essa eu deixo com vocês
Saiba que eu não reajo bem quando gosto tanto de alguém
Tenha paciência comigo, não me priva de algo tão bonito
Me assegura que você jamais vai maldizer
o instante em que você se deu pra mim,
em que se anulou por mim
Uma voz celestial se torna rouca de tanto gritar
que prefere passar fome a depender de homem pra se sustentar
O perito em casos desse tipo tinha um veredicto a anunciar
nessa hora, eu optei por me ausentar
Nas três horas diárias que eu passo
espremido em um ônibus lotado
indo e voltando do trabalho
eu sonho acordado
com a vingança dos torturados,
com a mulher que vai envelhecer ao meu lado,
com o meu pai ressuscitado...
Enfim, eu sonho acordado
|
Jair Naves São Paulo, Brazil
Singer-songwriter
São Paulo/Los Angeles.
Streaming and Download help
Jair Naves recommends:
If you like Jair Naves, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp