1. |
||||
As lembranças que eu guardo de Araguari
resumem-se ao dia em que eu fugi
caçado de perto por uma multidão
decidida a fazer justiça com as próprias mãos
Ecoavam sermões pelas ruas dormentes
ninguém larga tudo impunemente
o abandono é a pior traição
no fim das contas, hoje eu te dou razão
Em minha defesa, eu apelo ao óbvio:
eu era novo e sem temor,
eu tinha o mundo ao meu dispor
Só que a vida passou e eu caí em nostalgia
mesmo de coisas que eu mal vivi,
o que dizer da inocência que eu deixei em Araguari?
Araguari, o que foi que aconteceu?
Fui eu que te perdi ou você que me perdeu?
Foge à minha compreensão,
mas eu te dou razão
Fato é que eu não sou mais quem eu era antes
eu voltei envelhecido e hesitante
Hoje eu que cuido dos meus pais
e as crianças da nossa rua já não somos nós
Mas eu sinto saudade da nossa banda
de cada palco em que eu pisei, de cada nota que eu cantei
E ainda me dá um nó na garganta
pensar nos sonhos que eu sonhei,
na leveza dos amores que eu desperdicei
As brigas que eu comprei,
Meus amores inconfessos,
Os sonhos que eu sonhei...
|
||||
2. |
Silenciosa
05:18
|
|||
Passou, passou
Um dia eu me conformo
e paro de me culpar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar?
Se não deu certo com a gente, acho que nunca vai dar
Passou, passou
Um dia eu me acostumo
e paro de te importunar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar?
Se não deu certo com a gente, acho que nunca vai dar
Prometo que eu não demoro
quando eu estiver pronto, eu te aviso
Se bem que eu não me incomodo
pode ir agora que eu já não ligo
Só vê se não esqueceu nada
e vê se não volta mais
Enquanto eu não me recobro,
enquanto eu não estiver bem, em paz
A cama ficou espaçosa
nosso quarto ficou mais frio
A casa, silenciosa,
não me serve mais como abrigo
E foi consensual
nós nem sequer discutimos
Tudo tão civilizado
nem parecia comigo
Nossos amigos ainda questionam o que foi dessa vez
qual a gota d'água, como eu consegui
afastar você de mim
Deve haver em tudo isso alguma lição
algo a ser aprendido, uma compensação
para o quanto nós nos ferimos
Passou, passou
Um dia eu me conformo
e paro de te culpar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar?
Se não deu certo com a gente, acho que nunca vai dar
|
||||
3. |
De Branquidão Hospitalar
03:44
|
|||
No cômodo abafado, de branquidão hospitalar
via-se um mar de rostos borrados tentando te acordar
Você zombava desse empenho, da proteção que eu ofereci
um demônio enfermo de quem eu não consigo me despedir
Delirante, queimando em febre, você buscou a minha mão
A esse poder que você exerce eu nunca soube dizer não
Ela reagiu como se possuída
por um espírito ruim
Dizendo "prepare-se pra uma guerra, eu não respondo mais por mim"
E eu, tão impressionável,
me apaixonei
Eu me apaixonei,
eu me apaixonei
O que eu mim você reconhece, eu reconheço em você (não estou só)
O gosto da sua pele, as fraquezas que eu tento esconder (não estou só)
Quando eu menos esperava, a vida não falhou em me surpreender (não estou só)
Nada mais me entristece agora que eu encontrei você (não estou só)
Quando eu menos esperava, a vida não falhou em me surpreender (não estou só)
Nada mais me entristece agora que eu encontrei você (não estou só)
|
||||
4. |
||||
Como eu me defendo desse sentimento de inadequação
Que me destrói por dentro, pro qual eu não vejo explicação?
Bandeira a meio mastro, um afago áspero, a voz do cantor
Eu criei um certo faro para esse tipo de enganador
(Graças a você)
Ladeira abaixo, assim foi dito
uma obra-prima de eufemismo
para as dores da inaptidão,
para o sufocante calor da afobação
Ninguém imagina o que eu enfrentei
o quanto doeu, o quanto eu rezei
minha reza de ateu
num desespero que eu nunca me atrevo a demonstrar
Bêbada e vingativa,
o amor como eu o conhecia
de peito estufado, cheia de si
cantando em copos por aí
na madrugada eterna e ardente
que te deixou toda em carne-viva
Uma adoração inconcebível (em mim você devia confiar)
todo o amor que me é possível (eu vejo tanto de mim mesma em você)
recolhido, quieto, ensimesmado
meu refém conformado e imperturbável
na madrugada eterna e ardente
que me deixou todo em carne-viva
Agora, convenhamos: eu nunca me expus tanto, você nem pra impedir
Com todo esse alvoroço, eu só engoli meu almoço, não senti gosto algum
A torneira que eu esqueci aberta não tardou a inundar todo o prédio
mas eu sobrevivi, eu sobrevivi
O tempo que a gente passou aqui morando de favor
nos tornou parte da mobília sem valor
na percepção pobre e turva daquele que nos abrigou
E foi nesse corredor que eu vi o fantasma de um senhor
e de um labrador
magro, manco e ameaçador
Eu é que não vou me meter com esses dois
Nem queira saber o que eu ambiciono,
o que me mantém vivo, porque eu não cedo ao sono
Eu te aconselho: nem queira saber
Assim que os meus dias de vândalo terminarem,
eu sei que me levarão pro céu
E farão com que eu narre os meus escândalos
sem que eu me gabe,
com o constrangimento abatido de um réu
Talvez fosse preferível
que eu nunca tivesse saído
de onde eu nasci,
de Araguari
|
Jair Naves São Paulo, Brazil
Singer-songwriter
São Paulo/Los Angeles.
Streaming and Download help
Jair Naves recommends:
If you like Jair Naves, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp